Editorial
Sinal amarelo na economia
A notícia surgida na quarta-feira, repercutida ontem, de que uma crise de confiança dos investidores atingiu o Credit Suisse, um dos mais conhecidos bancos do mundo, fazendo com que suas ações despencassem na casa dos 30%, contaminando bolsas de valores pela Europa, ampliou a luminosidade do sinal de alerta que vem ganhando maior atenção nas últimas semanas. Mesmo que a instituição tenha pedido empréstimo de 54 bilhões de dólares ao Banco Central da Suíça para manter-se saudável e isso tenha acalmado um pouco os sempre sensíveis nervos do mercado financeiro, ainda assim acentuou a cautela com que líderes empresariais e governos têm tratado o momento atual da economia global.
Há poucos dias, uma outra instituição bancária, o Sillicon Valley Bank (SVB), dos Estados Unidos, entrou em colapso depois que correntistas - a maioria startups e firmas do Vale do Silício - correram para sacar seus depósitos e investimentos. Logo na sequência, outro banco americano, o Signature, de Nova York, também foi à bancarrota, informando a falência. Ainda que não sejam gigantes do sistema bancário norte-americano, são instituições cujas carteiras eram superiores a muitos bancos brasileiros, por exemplo, conforme afirmam especialistas no setor que, desde então, têm avaliado estas ocorrências e tentado projetar os efeitos disso no mercado mundial e nacional.
E é aí que está o nó do momento. A julgar por grande parte das análises feitas por economistas, sobretudo aqueles mais proximamente ligados ao complexo sistema financeiro mundial e fluxos de capitais internacionais, ainda não há clareza de quais impactos estes fatos podem causar a médio ou longo prazo. Aparentemente, o único consenso existente no momento é de que a crise atual é bem diferente daquela vivida em 2008, quando uma imensa bolha imobiliária se formou nos Estados Unidos, com bancos oferecendo empréstimos baratos para compra de imóveis, gerando aumento acelerado nos valores por conta da alta procura e, sem que a população tivesse sua renda acompanhando, resultando em uma alta inadimplência e um baque nos agentes financiadores. Agora, 15 anos depois, o diagnóstico é de que estas crises nos bancos teriam como fatos geradores más administrações de seus gestores, com baixa influência em um contexto mais amplo.
Some-se a isso algumas incertezas e sombras por conta de um mundo que ainda se recupera de grave pandemia e lida com crises geopolíticas como as farpas entre Estados Unidos e China, além da guerra entre Rússia e Ucrânia, e tem-se as condições para uma névoa densa pela frente. A ponto de, mesmo quem diz enxergar adiante, não saber exatamente o que está por vir. Em tempos assim, o melhor para quem conduz - sobretudo governos - é ligar o farol de neblina e avançar com segurança. Sem se assustar, mas nunca fazendo pouco caso ao sinal de alerta que possa aparecer.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário